Álvaro TAVARES ®
(1904-1962)
Berta da Silva DANTAS

Carlos António Dantas TAVARES ®
(1946-2019)

 

Relações da família

Carlos António Dantas TAVARES ®

  • Nascimento: 11 Jun 1946, São João Baptista, Ilha Brava, Cabo Verde
  • Óbito: 6 Ago 2019, Assomada, Santa Catarina, Santiago, Cabo Verde com 73 anos de idade
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Símbolo  Eventos de relevo na sua vida:

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• Atividade política: foi preso político da PIDE, a 8 Out 1967, em Cabo Verde. Encarcerado no Campo de Concentração do Tarrafal. Data da primeira prisão 08 de Outubro de 1967

O nº16 da lista aqui ao lado.



• Foto idade madura:



• Atividade política: deputado da 1ª Assembleia Nacional de Cabo Verde eleito, a 30 Jun 1975. Esta Assembleia proclamou a Independência de Cabo Verde a 5 de julho de 1975.

O nome deste deputado consta da lista ao lado, onde os nomes estão por ordem alfabética.
NB: todas as pessoas cujos nomes estão assinalados com um • vermelho, têm igualmente uma página própria nesta árvore genealógica.



• Foto meia idade:



• Atividade lúdica: xadrez. Presidente da Assembleia Geral da Associação de Xadrez de Santiago Norte.

• Nota biográfica:,. Data da primeira prisão: 08 de Outubro de 1967

Carlos António Dantas Tavares nasceu a 11 de Junho de 1946 na ilha Brava, de onde o pai, médico, era natural. A mãe era de S. Nicolau. A família viveu alguns anos em Angola e terá sido aí que Carlos, ainda criança, terá ganho a sua "consciência nacionalista", devido à forma como "os angolanos eles estavam maltratados pelos portugueses".
Fez a instrução primária em Lisboa, regressando em 1958 a Cabo Verde, S. Vicente. Aí conviveu com amigos mais velhos, que falavam de luta anticolonial, PAIGC, Amílcar Cabral. Aos 17 anos, sozinho em S. Vicente '96 "os meus irmãos todos já tinham embarcado (…) o meu pai morreu tinha eu 15 anos e a minha mãe morreu eu tinha cinco" '96 pensou emigrar, mas "havia uma lei que dizia que os mancebos que fossem fazer 18 anos não poderiam embarcar sem fazer a tropa". Desempregado, acabou por conseguir um lugar de professor primário: "Apareceu-me um lugar em Santo Antão, na Ribeira da Torre, e aí conheci o Lineu Miranda, através do qual estreitei as minhas relações com o PAIGC."
Virá a ser preso em Cidade da Praia, no mesmo dia em que Lineu Miranda e Jaime Schofield foram presos em Santo Antão, 24 de Outubro de 67. A prisão não o surpreendeu: "Em Setembro de 1967 concorri de novo para professor eventual e saiu um despacho no Boletim oficial dizendo que Carlos António Dantas Tavares e Jaime Bem Hare Soifer Schofield não foram admitidos por não oferecerem garantias aos interesses superiores da Nação. Eu disse: "Estou liquidado." Em Outubro fui preso."
Só dois anos depois, em Outubro de 1969, viriam a ser julgados. Inicialmente condenados a dois anos e meio de prisão, viu a sentença ser aumentada para quatro anos e medidas de segurança '96 a mesma aplicada a Jaime Schofield e Luís Fonseca, que fora preso em S. Vicente dois meses após a sua prisão. Em Março de 1970 dão entrada no Tarrafal. "Ainda pensámos na altura que ia ser a continuidade com ligeira melhoria. (…) Mas na realidade foi pior. E foi pior principalmente por causa do diretor, o Dadinho Fontes.(…) É que o Dadinho Fontes era cabo-verdiano. Tinha necessidade de mostrar ao regime que era patriota." (…) "Às vezes mandávamos pedir à família vitaminas e eles retiravam. E no que diz respeito ao tratamento médico, qualquer que fosse a doença, a medicação era aspirina. De modo que em comparação com a Cadeia Civil, a nossa situação no Tarrafal piorou incomparavelmente."
Começaram por estar no mesmo lado do campo que os presos angolanos, o que lhes permitiu alguns contactos, nomeadamente com o escritor António Cardoso, colocado por castigo numa cela disciplinar próxima das suas. Mas quando um jovem preso angolano tentou fazer-lhes chegar um bilhete atirando-o através das grades e foi visto pelos guardas, foram mudados para o outro lado do campo, onde estavam os presos comuns.
Em Agosto de 1970, chega um novo grupo de presos cabo-verdianos, ligado à tentativa de desvio do barco "Pérola do Oceano": "A maior parte deles eles estavam rapazes de muito baixo nível de instrução, alguns nem tinham a quarta classe, de modo que fomos nós que lhes fomos ensinando a ler." Carlos Tavares também estudava, tentando completar o sétimo ano, e Jaime Schofield tentava fazer uma disciplina que lhe faltava.
Entretanto, foram conversando com os guardas e conseguiram aliciar dois: "Conseguimos através deles alguma literatura." Conseguiram também receber um pequeno rádio: "A Fernanda levou aquilo ao Luís, através de um guarda que nos deu depois o rádio. O Luís tinha um auscultadorzinho, e a coberto de ter que se defender dos mosquitos (…) cobria com um lençol, ficava lá dentro a ouvir o noticiário. No dia seguinte nos transmitia as notícias que tinha ouvido e foi através desse aparelho que ficámos a saber da morte de Amílcar Cabral. (…) Um mês depois (20-02-1973) nós três '96 eu, Luís Foseca e o Jaime Schofield '96 saímos. O Lineu continuou e veio a sair a 1 de Maio de 1974."
Os que saíram pudeles estavam arranjar emprego, mas com um aviso: "Se vocês se metem em chatices, como saíram com medidas de segurança durante três anos, neste período vocês voltam a entrar, agora não três mas a dobrar."
Gostaria que o Tarrrafal fosse preservado: "Todos os povos precisam das suas referências e esta é uma referência importante para Cabo Verde. Se somos hoje um país independente, as novas gerações precisam saber que elas hoje são o que são graças a gente como nós, que passou pelo Tarrafal."

Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.


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